Written by 2:44 am Histórias Views: 0

Todo meu ouro‍

É nos tempos difíceis que se descobrem os verdadeiros amigos. Aquele que fica do seu lado neste momento, podem acreditar que é o verdadeiro amigo e irmão. É o que se percebe nos dias de hoje no Irã entre a nação iraniana que tem demonstrado um consolo social e humanitário aos povos oprimidos da Palestina e Líbano contra as agressões sionistas de Israel. ‍

O que se percebe claramente nos dias de hoje no Irã são postos de coleta de doações aos deslocados e desabrigados. Postos estes que estão espalhados em vários pontos do país e por toda cidade, especialmente nas Mesquitas. São lá que as populações levam suas doações e entregam o que conseguem em ajuda aos povos oprimidos da Palestina e do Líbano. ‍

Uma das formas de doações aceitas pelo escritório de coleta são joias e pedras preciosas de valor que são entregues, geralmente, por seus donos que são mulheres ou meninas. Para quem não sabe, no islamismo quando o homem casa deve pagar um dote a sua esposa e este dote é como se fosse uma dívida, que só se paga quando ele entrega a sua esposa. E na grande maioria das vezes este dote é pago as mulheres em ouro, pode ser joias, brincos, pulseiras ou colares. E como são presentes do marido, geralmente são pertences das mulheres que elas se apegam por serem lembranças do casamento e da união entre elas com seus amados, e por carregar as boas lembranças do noivado. ‍

O mais curioso é a caridade de milhares de mulheres que renunciam a suas joias e pertences para doá-los às famílias e crianças do Líbano, demonstrando um alto nível de altruísmo e um consolo com corajoso e digno povo libanês. O desapego a esses pertences mundanos por uma boa causa é um dos gestos mais belos que se vê nesta guerra pois é algo que impressiona todas as nações do mundo. ‍

Neste sentido, várias histórias contadas e relatadas por quem está à frente do recebimento destas doações, entre elas a contada por um jovem que tinha a missão de recolher doações de pessoas que, por algum motivo, não podiam ir aos postos de coleta. Ele visitava as casas daqueles que entravam em contato pedindo para alguém passar e pegar as doações e costumava ir de moto, colher as doações de alto valor e de baixo peso. ‍

Ao longo do dia, este jovem rapaz cumpria várias missões, indo a diversos casas e lugares e geralmente recolhia as doações de pessoas que não podiam ir até os postos para depositar suas doações. Ele recebia as coletas, pesava o ouro, entregava o recibo e no final do dia levava tudo para o posto entregando ao escritório central. ‍

Já era final da tarde quando ele recebeu a última missão do dia: deveria ir até um local um pouco mais distante do centro da cidade para pegar a última doação e, então, retornar para a base. Ele colocou o endereço e seguiu viagem. No entanto, quanto mais ele se aproximava do destino, mais começava a sentir preocupação, pois aquele bairro era novo para ele e estava com medo de que algo acontecesse, já que carregava uma bolsa cheia de ouro. ‍

A região parecia um tanto inseguro, com becos estreitos e pessoas olhando para ele de forma estranha, que era normal nestes bairros de seus moradores quando chega alguém estranho. Mas ele não se deixou intimidar e continuou seguindo a seu destino. ‍

Ao chegar ao endereço, entrou em um beco apertado, uma rua sem saída e começou a procurar pelo número da casa, mas não conseguia encontrar. Até que, finalmente, viu um número apagado na porta de uma casa velha, que transmitia anos de dor e angústia ter passado naquela casa, uma porta enferrujada e uma campainha bastante antiga, que nem funcionava direito. ‍

Bateu forte na porta e, após um tempo, ouviu uma voz bem baixinha atendendo-o, parecendo ser uma mulher idosa. Ela demorou um pouco para abrir a porta, pois andava devagar, com movimentos lentos, típicos de alguém de idade avançada.

Quando a porta finalmente se abriu e ele olhou para quem abriu a porta ficou emocionando, era uma senhora idosa que caminhava sob andador e pelo jeito morava sozinha. Um olhar rápido para o pátio da casa dava a entender que a nobre idosa morava sozinha, pois o pátio estava cheio de folhas de árvore e que ninguém lá, além dela, podia fazer a limpeza. ‍

Ele a cumprimentou gentilmente e a chamou de mãe e ela o respondeu chamando de filho, depois de ter se queixado porque o homem tinha demorado tanto para vir, ele pediu desculpas e disse que ela morava muito longe. Então, depois de um bate papo rápido, a nobre senhora tirou uma pequena sacolinha debaixo do seu chador e entregou ao homem dizendo: “Eu que peço desculpas pois só tenho isto para oferecer”‍

Dentro daquele saco estavam as joias daquela nobre senhora, que pareciam ser poucas, demonstrando a classe social e o estilo de vida que ela havia tido ao longo dos anos. Como é costume entre os iranianos, as joias são acumuladas como uma espécie de poupança, para serem usadas em momentos de crise ou quando necessário.‍

— Minha senhora, está fazendo essa doação com o mínimo que tem? Não seria melhor manter isso pois talvez precisaria?‍
Com um sorriso sereno, ela respondeu:‍

— É o mínimo que posso fazer. É o mínimo que me deixa confortável. É o mínimo que posso oferecer para consolar meus irmãos e filhos no Líbano.‍

O jovem ficou emocionado, pegou as doações, beijou a cabeça daquela nobre senhora sobre o seu chador. Ele agradeceu, entregou o recibo para a senhora e, com o coração tocado, seguiu viagem de volta para a base.‍

Por: Haj Nasser Al-Khazraji‍
Revisão e auxílio: Amani Abou Hamzah

Visitado 1 total, 1 visit(s) dia
Close