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POR QUE GUSTAVO PETRO NÃO SE IMPORTA EM PERDER O VISTO DOS EUA?

No último sábado (27/09), o presidente colombiano, Gustavo Petro desembarcou em seu país de origem com a notícia de que seu visto para os Estados Unidos havia sido retirado após ele se reunir com ativistas pró-Palestina, em Nova York. Ao lado do músico Roger Waters, ex-integrante do Pink Floyd, Petro fez um discurso defendendo o fim do genocídio do povo palestino.

Petro vem sendo uma das vozes mais fortes do mundo contra o massacre que acontece diariamente na Faixa de Gaza, que já vitimou milhares de pessoas, mais de um milhão de deslocados, e em sua grande maioria mulheres e crianças.

Após receber a informação de que os EUA estariam fechando as portas, o presidente disse não se importar com a decisão, e ele tem motivos para isso. Desde que foi eleito, já sofreu várias tentativas de retirá-lo de seu cargo, e em todas as vezes, manifestações nas ruas mostraram que ele está respaldado pelo poder popular.

Petro é o primeiro presidente da Colômbia não alinhado com os interesses dos Estados Unidos e também o primeiro de esquerda a vencer o cerco e as maracutaias da direita e ocupar o Palácio de Nariño. O país já foi apelidado de “Israel da América Latina” por seu Estado beligerante e opressivo, seu exército profissionalizado e bem equipado com ajuda dos EUA e Israel, além de sete bases militares estadunidenses.

Mais do que uma mera retaliação por um discurso, a revogação do visto é a reação previsível de uma potência hegemônica vendo seu mais fiel aliado regional escapar de sua órbita. Petro não está apenas falando de Palestina; está executando um realinhamento geopolítico que busca desatar os nós seculares do Plano Colômbia e do título de ‘Israel da América Latina’.

Petro é fruto dessa realidade dura de décadas de conflito armado que atravessam gerações de colombianos, sendo que ele próprio chegou a militar em um dos grupos, o M-19. Grupo que chegou a assinar um acordo de paz e teve seu líder, Carlos Pizarro, assassinado durante uma campanha presidencial dentro de um voo comercial, mesmo com esquema de escolta fornecido pelo Estado.

A perda do visto, nesse contexto, é quase um troféu—a confirmação de que sua política externa soberana está dando certo. É a quebra de um tabu: a ideia de que a legitimidade de um líder latino-americano é concedida por Washington. Petro prova que sua legitimidade, forjada nas lutas populares e na resistência a décadas de violência estatal, é infinitamente mais robusta.

Quem viveu tudo isso e chegou à presidência, não tem por que temer perder o visto estadunidense.

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