Written by 2:37 pm Guerra, Histórias, Palestina Views: 0

“Eu estava em um túmulo”: prisioneiras palestinas libertadas contam suas histórias

“A comida era ruim, e a água tinha um gosto nojento. Não havia tratamento ou remédio para minhas doenças. Eu estava em um lugar que parecia muito com um túmulo”, diz Khalida Jarrar

Por Fayha Shalash, Ramallah, reportagem publicada no Palestine Chronicle em 21/01/2025. Republicada em Fepal Brasil em 30/01/2025.

Prisioneiras palestinas libertadas, incluindo a proeminente líder Khalida Jarrar, compartilham relatos angustiantes de seus abusos e sofrimentos em prisões israelenses com o Palestine Chronicle, destacando as condições brutais que suportaram.

Khalida Jarrar, a icônica líder palestina, apareceu após sua libertação no acordo de troca no domingo (19) parecendo irreconhecível para aqueles que a conheciam — cansada e magra, com cabelos brancos e olhos que refletiam a opressão do confinamento solitário.

“Eu estava em isolamento. Não consigo falar.” Com essas palavras, ela se desculpou com todos os jornalistas e saiu com sua família, enquanto todos estavam tomados pela tristeza por sua condição.

Mas depois de apenas um dia, Khalida voltou mais forte do que nunca, como se tivesse sacudido a poeira da prisão e do confinamento solitário para expor o carcereiro e sua crueldade.

69 prisioneiras palestinas de um total de 85 foram libertadas no recente acordo de troca entre o movimento de resistência palestino Hamas e Israel, incluindo mães, jornalistas, estudantes universitárias e mulheres feridas.

Em contraste com os sorrisos e a boa saúde visíveis nos rostos das três detidas israelenses entregues pelo Hamas, as prisioneiras palestinas pareciam cansadas, pálidas e com dor.

Falando para um grupo de jornalistas em Ramallah, Khalida tentou transmitir uma imagem do que ela suportou em uma cela de confinamento solitário por seis meses antes de sua libertação, onde a vida parecia ausente.

“Eu estava em uma cela estreita. Às vezes eu me sentia sufocada. O banheiro era ao meu lado no mesmo quarto apertado”, ela disse.

“A comida era ruim, e a água tinha um gosto nojento. Não havia tratamento ou remédio para minhas doenças. Eu estava em um lugar que parecia muito com um túmulo”, acrescentou.

Embora esta fosse sua quinta prisão, ela admitiu que foi a mais difícil. As condições da prisão eram duras, e os carcereiros eram cruéis.

Khalida foi detida em sua casa em 23 de dezembro de 2023. Ela foi transferida para detenção administrativa sem acusação ou julgamento, reforçando a crença de que sua prisão tinha a única intenção de silenciá-la, já que ela é um símbolo nacional da luta palestina.

“Eles puxaram meu cabelo”

Jenin Amr, uma estudante calma e sempre sorridente da Universidade de Hebron, saiu do ônibus do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, procurando entre os rostos por sua família.

Ela viu seu pai de longe, correu até ele e pareceu voar antes de pousar em seus braços. Seu rosto mostrou a dor e a exaustão inesquecíveis que a detenção administrativa havia gravado em suas feições durante os 14 meses que passou lá sem nenhuma acusação.

Com uma voz cansada, mas calma, Jenin disse ao Palestine Chronicle que a provação do processo de libertação foi semelhante ao que ela suportou na prisão. Quando ela e as outras prisioneiras foram transferidas da Prisão de Damon para a Prisão de Ofer, elas foram espancadas e insultadas.

“Eles puxaram meu cabelo com força e me jogaram no chão. Quando uma das prisioneiras tentou me ajudar, eles a pararam”, ela nos contou.

“Fomos todas submetidas a insultos, humilhações e xingamentos. Eles nos mantiveram em um lugar frio por longas horas sob o pretexto de conduzir procedimentos de inspeção”, acrescentou.

Jenin, cujo nome reflete a cidade mais sofrida da Cisjordânia ocupada, disse que a prisão é um lugar cruel para as mulheres, onde seus direitos básicos e dignidade pessoal são desconsiderados.

“A comida que nos foi dada não poderia ser chamada de comida — apenas alguns grãos de arroz malpassado, sopa sem sal e água com gosto de ferrugem. Era disso que vivíamos”, ela continuou.

No dia seguinte à sua libertação, o exército israelense invadiu a casa de Jenin e ameaçou sua família, avisando que a prenderiam novamente se houvesse qualquer sinal de celebração por sua liberdade.

“Meu coração estava partido”

Ao falar de prisioneiras, as histórias de mães se destacam, pois Israel nem mesmo respeita o vínculo sagrado entre uma mãe e seus filhos.

Uma cena foi particularmente comovente: a jornalista Rula Hassanein abraçando sua filha pequena, Elia.

Nascida prematuramente, Elia precisava desesperadamente de sua mãe quando o exército israelense deteve Rula em março de 2024.

“Meu coração se partiu por ela. Sempre que pensava nela, chorava amargamente. Eu sabia que ela precisava de mim, mas descobri que eu precisava mais dela”, disse ela.

Rula, que sofria de doença renal crônica, não recebeu tratamento na detenção. Ela solicitou repetidamente ser transferida para a clínica e fazer exames médicos, mas seus pedidos foram negados.

“Todos nós fomos submetidos a revistas íntimas — uma política degradante que violava todas as leis, religiões e tradições. Era puramente humilhante e duro”, afirmou.

Cada prisioneira voltou com uma história mais dolorosa, cheia de detalhes que levariam qualquer um às lágrimas.

No entanto, assim que viram suas famílias, elas pareciam esquecer a dor, esperando por dias melhores. Elas desejavam que a prisão permanecesse apenas uma lembrança, uma que as ensinou paciência e perseverança.

Close