Na cidade de Dardaghia, no sul do Líbano, onde as velhas casas de pedra se fundem com as ruelas estreitas e as figueiras pontuam a encosta da montanha, os sons da chamada à oração e dos sinos das igrejas se harmonizam, pintando um quadro de fraternidade e coexistência. Joseph Badawi viveu ali desde a sua infância, entre os bairros da cidade. Filho de pais humildes, Joseph cresceu neste ambiente, e, quando adulto, escolheu o caminho do sacrifício, trabalhando como paramédico na Defesa Civil, oferecendo sua vida em serviço aos outros, e atuando desde o início da agressão contra o Líbano. Seu coração estava cheio de amor e tolerância; carregava a cruz no peito e Jesus Cristo no coração, trabalhando lado a lado com seus amigos muçulmanos, que o viam como um verdadeiro irmão, sem distinções entre eles, exceto pelos rituais, pois compartilhavam, em essência, a mesma fé.
Joseph adorava tomar chá à maneira do sul, sentado com os seus amigos depois do trabalho exaustivo no Centro de Defesa Civil, dividindo com eles a vida, a terra e a pátria. Para ele, o chá não era apenas uma bebida, mas um símbolo de verdadeira fraternidade. A xícara quente unia cristãos e muçulmanos, que compartilhavam experiências e reafirmavam seu compromisso com a pátria.
Num dia particularmente difícil, Joseph rezava na igreja da cidade, diante de sua cruz, enquanto os companheiros muçulmanos ao seu redor se curvavam e prostravam perante Deus. Estavam todos ali, naquele lugar sagrado, com rituais diferentes, mas unidos na fé no Criador. Juntos, após cada oração, choravam pelo mestre dos mártires, Hussein, que a paz esteja com ele, compartilhando a dor e a tristeza daqueles momentos de Ashura.
Joseph não era estranho a essas reuniões; participava dos conselhos da Ashura com seus amigos, sentindo o sofrimento de Hussein, que a paz esteja com ele, e vivendo o espírito de resistência que unia o povo do sul do Líbano à sua história comum. Ele via em Cristo e em Hussein, que a paz esteja com eles, um único caminho: o caminho do sacrifício pela justiça, da retidão diante da injustiça. Nesses momentos, Joseph e seus amigos, cristãos e muçulmanos, permaneciam juntos no caminho da fé e do sacrifício, encarnando a coexistência muçulmano-cristã em todos os seus significados.
Mas os aviões de guerra israelitas não fizeram distinção entre as orações, entre uma cruz e um ajoelhar, entre uma igreja e uma mesquita. Os projéteis vieram sem piedade e caíram sobre o local onde estavam, ceifando a vida de Joseph e de seus companheiros. A cruz subiu ao céu ao som dos takbirs, e suas almas ascenderam, unidas na morte como na vida. O martírio de Joseph e de seus companheiros foi a prova de que a selvageria humana não tem religião e não faz distinção entre muçulmanos e cristãos, entre igrejas e mesquitas, entre prostrar-se e rezar diante da cruz.
Joseph, que sempre defendeu a coexistência muçulmano-cristã, se opunha firmemente a essa selvageria. Ele sabia que a força do Líbano residia em sua união, na coesão entre seus povos de diferentes religiões. Acreditava que o Líbano permaneceria firme enquanto os seguidores de Maomé (Mohammad) e Jesus, que a paz esteja com eles, defendessem sua terra, permanecendo unidos contra qualquer agressor maléfico e protegendo o povo deste país dos males da divisão e do sectarismo.
No Líbano, os seguidores de Maomé (Mohammad) e Jesus, que a paz esteja com eles, têm um só objetivo: a defesa da terra, do amor e da vida. Nas colinas de Amelah, a igreja e a mesquita se unem diante de todos os invasores e agressores, para que a terra dos heróis permaneça imortalizada pelo seu amor à paz e à resistência.
Por Dr. Hassan Al-Zein
Tradução: Lara Gregorio