Mohammad El Haj Hassan, nascido no Líbano em 1976, ingressou aos 17 anos no seminário islâmico em Baalbeck, onde iniciou sua formação religiosa. Após uma temporada de estudos, buscou se estabelecer como líder religioso. No início, associou-se ao Partido da Resistência Libanesa, mas essa relação foi breve e não atendeu às suas ambições de ocupar posições de liderança e influência. O Partido, mesmo sem conceder-lhe um cargo de destaque, confiou a ele a gestão de um fundo, que, posteriormente, foi desviado por Hassan para fins pessoais. Apesar de sua conduta o ter levado à prisão, ele foi libertado antes de ser julgado e condenado. Embora o partido tenha intervindo para evitar que enfrentasse a justiça, Hassan nunca demonstrou gratidão pela proteção recebida, o que acabou por causar um gradual afastamento de sua relação com o Partido, agravado ainda mais por escândalos sexuais, falta de maturidade e outros crimes pelos quais também teve de responder judicialmente.
Após seu desligamento, Hassan adotou uma postura de oposição às lideranças xiitas estabelecidas no Líbano, incluindo a Resistência Libanesa. Com discursos polêmicos, ele foi cada vez mais repudiado pela população, chegando a ser desqualificado pelo Conselho Supremo Islâmico Xiita do Líbano, que questionou sua legitimidade religiosa. Esse repúdio se estendeu a seus familiares, que publicamente o afastaram, especialmente após escândalos envolvendo vídeos indecentes.
Migrando para os Estados Unidos, onde se casou com uma americana, Hassan tornou-se um crítico feroz da Resistência Islâmica no Líbano, alinhando-se com a coalizão “14 de março”, opositora da presença síria e da Resistência Islâmica no país. Em 2006, fundou o movimento “Frente Livre Xiita” e a “Fundação da Fé”, autoproclamando-se presidente e vice-presidente das entidades.
Hassan é uma figura extremamente polêmica, com uma forte inclinação para a autopromoção e para levantar questões que frequentemente ultrapassam os limites de sua qualificação. Suas atitudes após seu desligamento demonstraram que sua ligação inicial com a Resistência não se baseava em ideais ou princípios genuínos, mas sim em interesses pessoais. Inclusive, sua prática religiosa não se apresentava de maneira consistente, visto que Hassan chegou a invocar e pedir intervenções de figuras consideradas sagradas por outras tradições de fé.
Dentro da coalizão “14 de março”, Hassan aliou-se a outros opositores da Resistência, incluindo Samir Ja’ja’, líder do partido Forças Libanesas (FL). Ja’ja’ foi condenado pelo tribunal libanês por crimes de guerra, incluindo o assassinato do presidente eleito Bachir Gemayel, antigo líder das FL, em 1982 e um ataque que matou dez pessoas em uma igreja. Condenado à morte, sua execução foi suspensa devido a pressões políticas e internacionais, sendo libertado em 2005.
As Forças Libanesas, uma milícia cristã de direita, surgiram na guerra civil libanesa (1975-1990). Fundadas em 1976 como braço armado da Frente Libanesa, uma coalizão política cristã, as FL buscavam proteger as comunidades cristãs e combater grupos palestinos armados e facções muçulmanas e socialistas, vistos como ameaças à sua visão de um Líbano independente, aliado ao Ocidente.
Lideradas inicialmente por Bachir Gemayel, as FL se aliaram a Israel, recebendo apoio militar e logístico contra forças palestinas e muçulmanas no Líbano. Esse alinhamento intensificou as tensões com o Irã e a comunidade xiita libanesa, resultando em eventos como o sequestro dos diplomatas iranianos, um caso emblemático que ainda ecoa nas relações regionais. Durante a invasão israelense de 1982, as Forças Libanesas colaboraram de perto com o exército israelense, aproveitando o cenário caótico da guerra civil para consolidar sua influência.
Após o fim do conflito, as FL se desmobilizaram oficialmente, mas mantiveram influência política significativa, transformando-se em um partido político legalmente reconhecido, embora seu histórico de violência e papel no conflito civil ainda gerem controvérsia.
A postura de Hassan ao longo de sua vida e suas alianças controversas evidenciam que liderança não se define apenas por formação, estudo ou aparência, mas pela verdadeira sintonia entre as ideologias, pensamentos e os ensinamentos islâmicos autênticos. Seu exemplo é o de alguém que, por interesses pessoais e mundanos, sacrificou tanto os valores e a integridade da religião quanto a própria reputação espiritual, distanciando-se dos princípios que, supostamente, buscava representar.